O GUIDED CHAOS nasceu das muitas experiências de John Perkins. John nasceu em uma família de lutadores, repleta de combatentes veteranos da Segunda Guerra e brigadores de bairro. Motivado a se enturmar com seus parentes durões e apesar da sua falta de habilidade natural, ele procurou treinamentos de artes marciais com mestres que realmente sabiam lutar. Como policial de rua ele encontrou centenas de oportunidades de testar seu poder de combate. Mais tarde, como especialista forense de cenas de crime, ele teve a oportunidade de estudar e reconstruir milhares de casos para determinar como as pessoas realmente lutaram e morreram. Toda essa experiência e estudo de violência letal contribuíram para o desenvolvimento do GUIDED CHAOS.
Desde pequeno John percebeu que a violência real é muito caótica, rápida e imprevisível demais de se lidar usando técnicas formais de artes marciais. Das tradições de lutas europeias e nativo-americanas ensinadas a ele por sua família, até o Hapkido, Kempô Kung Fu, Tai Chi e outras por mestres da sua localidade e de outras regiões que ele procurou, John percebeu que o que faz grandes lutadores serem “grandes” não era particularmente suas técnicas e movimentos, mas sim como eles se moviam.
Independente de tamanho ou força, o mais importante são os princípios de equilíbrio, soltura, unidade corporal, sensitividade e liberdade de ação, sem se limitar por uma preocupação consciente de uma técnica ou de um movimento específico. Combinando estes “insights” com a sua vasta experiência e estudos de violência real, John criou uma metodologia de treinamento para desenvolver em seus praticantes princípios de combate (equilíbrio, soltura, unidade corporal, sensitividade), subconscientemente direcionadas a aplicações adaptativas livres de atrasos mentais provenientes de técnicas pré-planejadas. Esse sistema foi oficialmente fundado em Nova York no ano de 1978.
Segue entrevista com Ari Kandel, um dos instrutores oficiais de GUIDED CHAOS graduado por John Perkins, para a revista WING CHUN ORIGINS.
— Seu sistema não tem formas. Como ele se diferencia de outras artes sem formas como o Boxe e o Muay Thai?
Ari Kandel: Primeiro de tudo, o Boxe e o Muay Thai são esportes desenhados e desenvolvidos para preparar seu praticante a competir em um tipo de sparring com equipamentos específicos dentro de regras precisamente codificadas. O GUIDED CHAOS prepara seu praticante para lidar com o ilimitado, o imprevisível e não regrado caos da violência real. Então o foco é bem diferente.
O GUIDED CHAOS é distinto não só porque não utiliza katas/exibições/exercícios coreografados, mas também porque aplica técnicas sem padrões e sem sequência definida. O boxe ensina uns poucos socos e movimentos evasivos, cada qual com sua forma ideal e método de aplicação. Muay Thai adiciona alguns chutes, joelhadas, cotoveladas com um clinche diferente e toda uma estratégia de movimento.
GUIDED CHAOS não ensina tais golpes ideais ou movimentos evasivos. O que existe é o impacto natural do seu corpo e um jeito eficiente de se mover como um todo (com equilíbrio, soltura, unidade corporal e sensitividade) que te permite ser inacessível porém inevitável por outros corpos momento a momento, deixando seu corpo fora do caminho da força dos outros enquanto lhes causa danos e os controla.
Não há regras além das leis da gravidade e da anatomia humana. Qualquer movimento que se alinha com os princípios que sejam adaptáveis a situação são válidos.
— Você usa conceitos de “sticking” (grudar/ tocar/ encostar) ao seu oponente como no Wing Chun?
Sim, embora a ideia de “sticking” no GUIDED CHAOS seja mais livre. Encostamos nossos braços e pernas nos braços e pernas do oponente, mas não é só isso. Qualquer contato em qualquer lugar é suficiente para guiar o movimento de todo o corpo do praticante. Nós nos esforçamos para conseguir um toque cada vez mais leve e graus de contato cada vez mais sutis, sem uma pressão padrão, para assim estar menos disponível e também mais indecifrável ao oponente.
Em altos níveis de sensitividade, você aprende a “grudar” na intenção de um ou mais oponentes, dirigido pela visão subcortical assim como sensibilidade tátil, movendo-se como um fantasma onde seu oponente não sente nada a não ser seus ataques e sem saber de onde eles vem.
— Você mencionou em seu site que durante o “Contact Flow” seu toque deve ser leve. Ideias similares são expressas no Wing Chun e Tai Chi, e ainda sim nós vemos lutadores usar muita força bruta. Como é que alguém fica leve enquanto o oponente está usando muita força bruta?
Você precisa treinar da maneira certa. Você pode conseguir um toque leve e imperceptível independentemente da força aplicada do seu parceiro de treino ou oponente, basta desenvolver o equilíbrio, a soltura, a unidade corporal e a sensitividade necessária para se tornar indisponível as forças externas sem recuar.
Os exercícios solo do GUIDED CHAOS pode sem praticados diariamente para impulsionar o desenvolvimento desses princípios. O Contact Flow deve ser praticado da maneira correta: bem devagar na maioria das vezes (às vezes rápido, às vezes superlento) em uma velocidade constante sem aceleração ou desaceleração, sem ego (sem espírito competitivo e sem reação emocional ao acertar ou ser acertado) e sem interferência consciente (sem procurar por aberturas ou decidir o que fazer) somente um fluxo subconscientemente dirigido.
Depois de um tempo, você desenvolverá a aplicação da unidade corporal que combinada com os outros princípios permitirá que você deixe seu centro de gravidade indisponível a um movimento vigoroso do seu parceiro no primeiro sinal iminente de força, antecipando a sua necessidade de aplicar força para pará-lo, enquanto deixa o seu corpo inevitável ao seu parceiro, negando-lhe a oportunidade de se recuperar ou esquivar.
— Como deve ser o movimento dos pés durante o Contact Flow? Você tem exercícios especiais para trabalhar os pés como o boxe sombra dos pugilistas?
Todos os movimentos dos pés devem ser naturais, nada artificial. Nós nos concentramos no desenvolvimento de equilíbrio em qualquer posição, mesmo em um pé só. Não importa onde você está ou o que está sendo feito a você, desde que você tenha pelo menos um pé no chão, você pode fazer o que precisa ser feito.
Você move seu pé o mais eficientemente possível, usando o mínimo de movimento necessário para mover seu corpo para onde ele precisa ir, se isso requer que você de um passo, mudar o peso do corpo de um pé para o outro ou meramente empurrar o solo de um jeito diferente, é isso que você fará.
Todo movimento deve emanar da pressão do seu pé contra o chão, empurrando o chão de infinitas maneiras através dos infinitos pontos da sola do seu pé. (Note que o mesmo se aplica para seu corpo inteiro na luta no chão). Por que você sempre quer uma conexão sólida com o chão (mesmo se o local de contato muda constantemente), você geralmente não deve ficar saltitando a esmo ou na ponta dos pés.
A movimentação dos pés é sutil e estável, com movimentos similares aos dos gatos, com pequenos passos e o mínimo de tempo no ar. Os exercícios básicos de estabilidade desenvolvem seu equilíbrio em uma perna enquanto você muda de uma perna para a outra em todos os ângulos. Exercícios de pés adicionais treinam para aplicar esse equilíbrio em situações ainda mais desafiadoras, desde dar pequenos passos em todas as direções passando por mudar de direção instantaneamente até fazer giros, eliminando hábitos ineficientes como cruzar as pernas, torcer ou arrastar seu pé no chão, ou mover-se mais do que o necessário.
— Parece haver alguns conceitos “internos” no seu sistema. Você faz uso do conceito de “Grounding” (enraizamento)? Se sim, como você a treina?
“Equilíbrio” é como nos referimos ao enraizamento e ao grounding. Seu “enraizamento” é simplesmente onde você está equilibrado no chão. Para atingir a liberdade de ação necessária para lidar com a violência real, seu “enraizamento” não pode depender de uma postura específica. É por isso que nós enfatizamos a capacidade de se equilibrar e operar eficientemente em qualquer posição, até mesmo em um pé só.
Nossos princípios básicos de equilíbrio, soltura, unidade corporal e sensitividade são mencionados em todos os sistemas de artes marciais internas tradicionais.
No GUIDED CHAOS eles não são obscurecidos por segredos ou linguagem floreada, nem treinados de forma indireta através de exercícios coreografados em dupla. Nós treinamos para desenvolvê-los e aplicá-los constantemente e espontaneamente através de exercícios simples, livres, fluidos e treinos livres em dupla. O “Dropping” (queda súbita da massa corporal) que utilizamos extensivamente para gerar poder, ganhar equilíbrio e aceleração instantânea é similar em efeito ao “Cold Power” (Poder Frio) descritos em alguns textos de Tai Chi.
Em minha opinião, nas artes marciais, “externo” simplesmente quer dizer que você pode ver o que está acontecendo, enquanto que em uma arte marcial considerada “interna” simplesmente quer dizer que o movimento é tão sutil que você não pode ver facilmente como o efeito está sendo gerado.
— Você pode explicar o “Dropping Energy” (Energia do Cair) e como ele pode ser usado para aumentar o poder dos golpes?
Em um nível básico, o Dropping é simplesmente deixar todo o peso do corpo cair e então pegá-lo de volta. Se você conseguir, imagine que você é uma marionete que está sendo suspensa por fios, de repente seus fios são cortados e você começa a cair em direção ao solo para então você se sustentar de novo depois de alguns centímetros de queda. A sensação dos fios sendo cortados é uma sensação de relaxamento total. Seu corpo começa a acelerar em direção ao chão. No momento que você se recompõe, você está se aproveitando dos reflexos básicos de dentro do seu corpo para recuperar sua base no chão.
Seus ossos se alinham e seus músculos disparam com um efeito pliométrico (efeito de salto ou pulo) em uma maneira que te deixa extremamente explosivo e ancorado por um breve momento, antes de você voltar a estar neutro e flexível.
O Dropping permite que você acelere seu corpo instantaneamente em qualquer direção com muito mais peso do que de costume (tente fazer o Dropping em uma dessas balanças de banheiro para ver este efeito), permite gerar poder a curta distancia em qualquer ângulo. O Dropping também permite que você recupere seu equilíbrio quando sentir risco de perdê-lo, e rapidamente supera a inércia quando você está quase sem peso.
Eventualmente você aprende a internalizar os efeitos físicos do Dropping a ponto de fazer todas essas ações sem movimento visível, embora ambos, o interno e o externo sejam úteis em combate dependendo da situação.
— Você emprega muitas técnicas incapacitantes (como ataques aos olhos) no seu sistema. Como você testa essas técnicas em circunstâncias realistas?
Primeiramente, não importa quão extremo é o método, nunca confie em uma técnica específica para realizar um efeito específico em um adversário. Combates são simplesmente caóticos demais e o corpo humano é resiliente e variável demais para esperarmos que uma única técnica funcione sempre.
Nem projéteis são suficientes mesmo quando acertam. Além do mais, usar métodos extremos não evita que você tenha que se mover bem para acertar um golpe e se desviar de outros. “Ah, basta furar os olhos dele!” isso é absolutamente sem sentido se o outro cara se move muito melhor e você não consegue a posição certa para acertá-lo e sobreviver.
Por que nós praticamos o Contact Flow na maioria das vezes em velocidade reduzida, nós somos capazes de, em praticamente todos os alvos, lançar ataques com movimento e penetração realista. É claro que nós não podemos furar de verdade os olhos dos outros nos treinos. Nós podemos, entretanto, chegar bem próximo e ter a experiência do movimento geral envolvido para poder acertar os olhos e nos prevenir para não sofrermos o mesmo.
Quando fazemos o Contact Flow em velocidades mais altas, é necessário aumentar o cuidado. Ao mesmo tempo, quanto mais solto e sensitivo nos tornamos, melhor treinamos em alta velocidade de um jeito mais realista, à medida que confiamos mais nos nossos corpos para se proteger e sair do caminho dos ataques antes que eles atinjam muita penetração.
Finalmente, nós temos instrutores e alunos que usaram tais métodos (na maioria das vezes profissionalmente) e compartilharam suas experiências. Acertar os olhos (em vez de arranhar e apertar) em combate real causa convulsão instantânea (provavelmente por afetar grandes nervos), distração, mudança de mentalidade, reação extrema para prevenir o golpe, etc. Novamente, nunca conte com uma reação específica. Treine para seguir em frente independente do que acontecer.
— Você usa pontos de pressão como alvos em seu sistema?
Nossos “pontos de pressão” são simplesmente os pontos fracos comuns da anatomia humana: olhos, garganta, virilha, nuca, etc.
Pontos nervosos esotéricos, ou pontos de pressão ou pontos da morte, mesmo assumindo que eles existam assim como eles são descritos (o que certamente não é uma suposição segura pela ciência médica e experiências em geral) são muito precisos e variáveis para você atacá-los propositalmente durante o caos da violência real.
Enquanto que obviamente nos preferimos atacar as áreas que são mais facilmente danificadas do corpo se surgir a chance, o fato é que em combate real, você aproveita o que você consegue usar adaptando a situação momento a momento. Raramente você pega e escolhe o que você quer acertar.
— Qual o papel de armas improvisadas (canetas, lápis, guarda-chuvas, etc.) na defesa pessoal?
Qualquer coisa que fizer para aumentar as chances a seu favor é útil. O GUIDED CHAOS recomenda que tenha uma arma na sua mão – qualquer uma, feita com esse propósito ou improvisada – antes do ataque iniciar. Contamos com o fato de que você precisará lutar para pegar sua arma já que o agressor raramente lhe dará a oportunidade de sacá-la no meio da luta.
Se você pode legalmente carregar uma arma com a qual você é bem treinado, e se você for consciente o suficiente para por ela na sua mão antes que o ataque comece, e você sabe como usá-la eficientemente a curta distância, essa provavelmente será sua melhor arma na maioria das situações de vida ou morte.
Entretanto, muitos não podem carregar uma arma para todo lugar e toda hora (exemplo: aviões ou em outras áreas de segurança) então é bom ter habilidade com várias armas e saber como transformar objetos do dia a dia e o ambiente em que você está em armas.
Bengalas e canetas são as melhores armas, pois você pode carregá-las em qualquer lugar, e você pode segurá-las na sua mão, prontas para usar sem culpa ou sem mostrar sua intenção. Uma bengala oferece especialmente um alcance estendido e um grande poder de dano quando usada simples e apropriadamente. Você pode conseguir quase qualquer tipo de sapato com bico de aço o que transforma seu pé em uma arma mais eficiente do que eles normalmente são.
Outros itens úteis incluem lanternas robustas e brilhantes e talvez uma maleta sólida ou bolsa de notebook. Cadeiras, mesas, tijolos, ferramentas de construção e outros itens que você pode encontrar em qualquer tipo de ambiente pode ser facilmente usado em sua vantagem.
Facas, é claro, podem ser armas extremamente eficientes, mas de novo, mentalidade e treinamento é o segredo. No final do dia você não pode garantir que você terá uma arma na sua mão no momento em que você é atacado, então não importa o que você está carregando e não importa o que está disponível para você no ambiente em que você se encontra, você simplesmente tem que saber como lutar eficientemente de mãos vazias para encerrar a agressão ou pelo menos ganhar a oportunidade de trazer uma arma ao jogo.
— Qual estratégia você recomenda contra ataque de faca quando fugir não é uma opção?
Nossa primeira estratégia contra qualquer ataque é simples: não esteja lá para ser atacado em primeiro lugar! Muitas pessoas pensam que essa é uma desculpa para se livrar da situação e elas falham em perceber a verdadeira sabedoria deste conceito.
O que te levou ao lugar (local físico ou situação) onde você foi atacado por alguém carregando uma faca? Essa pessoa materializou a faca do nada ou você estava ciente o suficiente para sentir o perigo se aproximando? Você confiou no seu instinto subconsciente quando ele tentou te avisar de que o perigo era eminente? Esse aviso poderia ter te dado aquele milésimo de segundo para você pegar a sua arma ou preparar sua bengala, etc.?
É raro encontrar um cara armado que seguirá em frente com o ataque uma vez que ele viu sua mão indo pegar uma arma. Depois de tudo isso o que o cara com a faca quer? Se for só sua carteira, dê o dinheiro e depois vá embora! Se ele quer alguma coisa que você não está disposto a dar ou se ele tenta te levar a algum outro local (a cena do crime nº 2, a qual você nunca deve ir) ou se ele simplesmente está tentando te matar, então é hora de você lutar por sua vida com tudo que você tem.
É agora que você tem que ser brutalmente realista: qualquer um com uma arma de cortar ou perfurar e com a vontade de usá-la tem grande vantagem sobre alguém que está desarmado (ou que ainda não esta com uma arma na mão). Não há uma técnica secreta ou estratégia física que possa garantir o sucesso para a pessoa em desvantagem. Pense a respeito: uma luta entre dois clones seus, em quem você apostaria, aquele com a faca ou aquele sem? Você nunca sabe com quem está lidando e nunca deve subestimar do que as pessoas são capazes de fazer.
Ter equilíbrio, soltura, unidade corporal e sensitividade, liberdade de ação e intenção impiedosa bem desenvolvidos é claro que te ajudará. Também treinar contra infinitas variedades de ameaça com facas e métodos de ataque (não só os simples usados em escolas de artes marciais). Os métodos de defesa contra facas (não necessariamente recomendados, de novo, nada é a prova de idiotas) sugerido no treinamento do GUIDED CHAOS e das experiências pessoais de John Perkins assim como sua análise forense de milhares de homicídios e agressões, muitas incluindo facas e armas similares, levam em conta o que o corpo humano tipicamente quer fazer instintivamente quando sob agressão por uma pessoa carregando uma faca.
Para o básico na sobrevivência contra ataques de faca, acesse: www.internalselfdefense.com/aris-blog/surviving-knife-attacks
— Nas ruas, você recomenda socos, cotoveladas, ou golpes com a palma?
Para iniciantes, nós geralmente aconselhamos a não usar socos com punhos fechados, devido ao condicionamento prévio necessário para fazer do punho uma arma durável e a sensitividade e precisão necessária para evitar socar estruturas duras como a parte de cima do crânio e cotovelos durante o caos da violência real.
Para iniciantes, a palma é mais apropriada para golpes na cabeça. Golpes com a mão aberta foram favoráveis sobre os socos convencionais nos combates da era da Segunda Guerra Mundial nos programas de estudo de combate à curta distância dos militares como Fairbairn, Applegate e outros. Estes métodos inspiraram o programa essencial básico para os iniciantes no GUIDED CHAOS, com o objetivo de aumentar drasticamente a habilidade de autodefesa dos alunos em apenas poucas aulas.
Cotovelos são ótimos e nós ensinamos seu uso em uma variedade de golpes não convencionais. À medida que sua sensitividade e condicionamento avançam, nós não colocamos limites ao que você deve fazer. Se você pode fazer os socos funcionarem, então use-os! Através do Contact Flow e outros treinos você aprenderá intuitivamente o que funciona melhor para seu corpo.
Você tem de ser capaz de usar todas as partes naturais do seu corpo que podem golpear de todos os ângulos e posições para efetivamente causar dano e controlar o inimigo através da movimentação do corpo inteiro. Dedos, palmas, lateral da mão, pulso, todos os lados do antebraço, cotovelos, ombros, cabeça, peito, costas, quadris, joelhos, canelas, panturrilhas, todas as superfícies rígidas dos seus sapatos ou pés descalços, e tudo mais que puder usar.
— Sua metodologia de luta no chão parece ser completamente diferente do que é comumente visto no MMA. Qual é a razão por traz disto?
A luta no chão do GUIDED CHAOS, diferente do grappling, enfatiza o desengajamento ao invés de se atracar com o inimigo. Engajamento aqui quer dizer dois corpos em um sistema de forças por mais de um segundo de duração.
De maneira mais simples, métodos convencionais de grappling (luta agarrada no chão) enfatizam engajar-se com o adversário de uma maneira que o praticante procura se “entrelaçar” com o adversário para assim poder aplicar suas técnicas. O lutador de chão na ofensiva procura minimizar a distância entre o seu corpo e o do seu oponente para assim ganhar o máximo de controle e consciência dos movimentos do oponente, maximizando oportunidades para aplicar chaves e torções das articulações e técnicas de estrangulamento.
As lutas no chão do GUIDED CHAOS, por outro lado, nos faz ficar o mais desengajado possível. Ao invés de se entrelaçar com o inimigo, o praticante de GUIDED CHAOS se esforça para manter sua liberdade de movimento, assim não compromete todo seu corpo nos movimentos contra um único adversário.
O contato com o inimigo, ao invés de ser apertado e constante como no grappling convencional, é ligeiro e mínimo, consistindo primeiramente de chutes, golpes, pancadas e chaves rápidas. O princípio de se desengajar permite o praticante de GUIDED CHAOS utilize um elemento relativamente indisponível ao grappler convencional: MOBILIDADE.
A maioria dos métodos de grappling são desenvolvidos para um paradigma ESPORTIVO, enquanto a luta de chão do GUIDED CHAOS é direcionada para COMBATE REAL. Devido a sempre presente possibilidade de múltiplos atacantes em combate real, se engajar com um único adversário propositalmente no chão, portanto sacrificando mobilidade, é uma estratégia extremamente arriscada.
Melhor permanecer MÓVEL e desengajado para prevenir os atacantes de transformar você em alvo de golpes e de agarres eficientes enquanto você lança ataques poderosos, precisos com o corpo todo contra os atacantes mais próximos enquanto tentam criar uma abertura para escapar da multidão. Ω
(Artigo original em inglês: https://guidedchaos.kartra.com/page/WingChunMagazineArticle )
Eliane Costa
Muito bom material do artigo., com muito conteúdo em cada uma das resposta. É um convite a aprofundar na busca do entendimento do corpo nestes conceitos.
Luciano Imoto
Sim, não há segredos mas conhecimentos que estavam restritos a uma elite de mestres. Agora não mais, felizmente!